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Razão e fé no pensamento medieval

 A teologia (estudo de Deus) é a tentativa de conciliar fé religiosa e pensamento racional.
  Para santo Tomás de Aquino "Crer é imediatamente um ato do entendimento, porque seu objeto é a verdade, que propriamente pertence a este". "A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem" (Hb 11:1).
  Essa convicção se baseia não na evidência ou raciocínio, mas num profundo sentimento íntimo de certeza. Para a teologia cristã, a fé é sobretudo um estado de ser, no qual o homem se envolve irresistivelmente com o objeto de sua crença, convencendo-se da realidade invisível por meio de uma experiência existencial profunda. Segundo os teólogos, a fé tem por fundamento a própria palavra de Deus e não o testemunho humano. A fé cristã é a adesão do espírito a verdades reveladas por Deus e ensinadas por sua igreja. É também uma virtude, porque exige a submissão e confiança na veracidade divina. No Antigo Testamento, a fé é descrita como a submissão do homem ao Deus universal da justiça.   O judeu crente esperava que essa justiça se estendesse a toda a criação e que a fraternidade acabasse reinando entre todos os homens. O Novo Testamento descreve esse mesmo envolvimento apaixonado: o Deus invisível do povo de Israel torna-se visível na pessoa de Jesus Cristo.
  Na Idade Média, devido ao predomínio do cristianismo e a herança do pensamento grego-romano, a relação conflitante entre a fé religiosa e a razão filosófica ocupa os pensadores cristãos. Este conflito pode ser caracterizado pelas frases de santo Anselmo e de santo Tomás de Aquino:

Santo Anselmo: "Não tento, Senhor, penetrar na tua profundeza, porque de modo algum comparo a ela minha inteligência, mas desejo, ao menos, compreender tua verdade, em que meu coração crê e ama. Com efeito, não procuro compreender para crer, mas creio para compreender."

Santo Tomás de Aquino:
"Há, com efeito, duas ordens de verdades que afirmamos de Deus. Algumas são verdades referentes a Deus e que excedem toda capacidade da razão humana, como, por exemplo, Deus ser trino e uno. Outras são aquelas as quais a razão pode admitir, como, por exemplo, Deus, ser Deus, Deus ser uno, e outras semelhantes, Estas os filósofos, conduzidos pela luz da razão natural, provaram, por via demonstrativa, poderem ser realmente atribuídas a Deus. Embora a supracitada verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão humana têm postos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade."
   Com esta afirmativa santo Tomás admite que a razão humana é importante para compreender as questões sobre a fé.


   A partir das citações acima:
   Havia uma preocupação entre os pensadores relativa ao conhecimento humano: para se conhecer é necessário ter fé, e a fé seria o suficiente? Não seria necessário ter também racionalidade para se conhecer?
   Na perspectiva agostiniana, ao homem basta ter fé, pois todo o conhecimento necessário ao homem é por Deus revelado na interação entre a alma humana e a natureza. Tanto a alma como a natureza são obras divinas, e nelas esta inscrito tudo o que é necessário ao homem saber para se ligar a Deus.
  A herança filosófica adotada por Santo Agostinho foi o platonismo, ou seja, Agostinho concordava com a 'teoria das idéias' de Platão, e a idéia máxima o 'Bem', Agostinho identificava com Deus. Portanto, ao homem basta dar crédito ao que sua alma tem acesso para que possa viver santamente a sua vida. Não é necessária a razão humana.
   Aproximadamente 900 anos mais tarde, santo Tomás de Aquino, procura conciliar a herança platônica com a herança aristotélica. Esta conciliação passa pelo resgate do uso da razão humana para o conhecimento. Chega ele a conclusão que há coisas que a razão humana dá conta de conhecer sem o auxílo da fé, por exemplo: ao homem é compreensível um Deus único, onipotente e onisciente. Por extensão é compreensível o poder máximo a um único ser, é também compreensível um ser que tenha ciência de tudo. O que foge a razão humano é o fato de um Deus ser Pai, Filho e Espírito Santo ao mesmo tempo. Neste caso, como a razão humana não dá conta de compreender, ela se cala é dá lugar a fé, daí a frase: 'Sei porque acredito.'