O
h o m e m c o m o s e r p
o l í t i c o |
A
cultura clássica elabora uma imagem do homem na qual são
postos em relevo dois traços fundamentais: o homem como animal
que fala e discorre (zôom logikón) e o homem como animal
político (zôom politikón). Estes dois traços
estão em estreita relação, pois só enquanto
dotado do logos o homem é capaz de entrar em relação
consensual com seu semelhante e instituir a comunidade política.
E a vida política, vida humana por excelência segundo a
concepção clássica, se exerce pela livre submissão
ao logos codificado em leis justas. Por outro lado, essas duas características
fundamentais do homem se manifestam em atividades dotadas de finalidades
específicas, a atividade da contemplação (theoria)
e a atividade do agir moral e político (praxis).
Ao fazer do domínio da praxis um domínio específico
e autônomo de racionalidade, Aristóteles pode ser considerado,
se não o criador, certamente o sistematizador da Ética
e da Política como dimensões fundamentais do saber do
homem sobre si mesmo, vem a ser, da antropologia. A unidade dos domínios
ético e político se manifesta no fato de que, segundo
Aristóteles, o homem tal como ele o considerava na sua expressão
acabada, isto é, o homem helênico, é essencialmente
destinado à vida em comum na polis e somente aí se realiza
como ser racional. Ele é um animal político por ser exatamente
um animal de linguagem, sendo a vida ética e a vida política
artes de viver segundo a razão. Por sua vez as virtudes que a
Ética estuda, seja as recebidas dos costumes da cidade, seja
as adquiridas pelo ensinamento, só na vida política encontram
o campo do seu pleno exercício. Ética e Política
são assim, para Aristóteles, como tinham sido para Sócrates
e Platão, o campo por excelência onde se manifesta a finalidade
do homem coroada pelo exercício da razão ou definida pela
primazia do logos. O tratado sobre o "viver feliz" com que
Aristóteles abre o livro primeiro da Ética a Nicômaco
leva à sua expressão acabada o finalismo moral de Sócrates
e é, sem dúvida, um dos textos fundamentais para a compreensão
da visão clássica do homem. (Antropologia Filosófica
I, Vaz, Henrique de Lima)
"É
evidente que a cidade faz parte das coisas naturais, e que o homem
é por natureza um animal político. e aquele que
por natureza, e não simplesmente por acidente, se encontra
fora da cidade ou é um ser degradado ou um ser acima dos
homens, segundo Homero (Ilíada, IX, 63) denuncia, tratando-se
e alguém: sem linhagem, sem lei, sem lar.
Aquele que é naturalmente um marginal ama a guerra, e pode
ser comparado a uma peça fora do jogo. Daí a evidência
de que o homem é um animal político mais ainda que
as abelhas ou que qualquer outro animal gregário. Como
dizemos freqüentemente, a natureza não faz nada em
vão; ora, o homem é o único entre os animais
a ter linguagem (logos). O simples som é uma indicação
do prazer ou da cor, estando portanto presente em outros animais,
pois a natureza destes consiste em sentir o prazer e a dor e em
expressá-los. Mas a linguagem tem como objetivo a manifestação
do vantajoso e do desvantajoso e portanto do justo e do injusto.
Trata-se de uma característica do homem ser ele o único
que tem o senso do bom e do mau, do justo e do injusto, bem como
de outras noções deste tipo. É a associação
dos que têm em comum essas noções que constitui
a família e o estado." (Política - Aristóteles) |
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