C
e t i c i s m o e D o g m a t i s m o |
A
verdade não existe; se existisse, seria impossível conhecê-la; e ainda
que se pudesse conhecê-la, seria impossível comunicá-la. Essa fórmula
resume os princípios do ceticismo e orienta a reflexão sobre os fundamentos
e limites do conhecimento.
Ceticismo é uma doutrina filosófica segundo a qual, do
ponto de vista teórico, não se pode conhecer a verdade e, do ponto de
vista prático, só se chega à felicidade, entendida como ausência de
inquietação (ataraxia), pela suspensão de todo juízo. Caracterizado
por uma atitude que repele os dogmas, o ceticismo busca demonstrar a
inconsistência de qualquer afirmação. A única posição justa é a recusa
em assumir qualquer posição. A atitude cética, no entanto, não deve
ser interpretada como indiferença: ela representa um esforço ativo para
manter no espírito o equilíbrio entre as representações da realidade
e as opiniões sobre essas representações.
Deste modo, o relativismo contido nas opiniões
resgata a posição sofista de Protágoras quando
ele diz que "O homem é a medida de todas as coisas. Das
que são enquanto são e das que não são enquanto
não são." Portanto, numa situação conflitante,
ou seja, entre opiniões antagônicas, o cético "suspende
o juízo" e se livra do incômodo de ter que decidir
por uma delas.
O fundador do ceticismo antigo foi o filósofo grego Pirro
de Élida, no século III a.C.. Aceitando a distinção entre o que é verdadeiro
por natureza e o que é verdadeiro por convenção, Pirro admite que as
coisas existam por si mesmas e que tenham uma natureza, mas não que
elas sejam acessíveis ao conhecimento. Não existem, portanto, coisas
belas ou feias, boas ou más, verdadeiras ou falsas por natureza, mas
somente por convenção ou costume. Nossos juízos sobre a realidade dependem
de sensações, que são instáveis e ilusórias. O autêntico sábio, portanto,
deve praticar a suspensão do juízo (epokhe), estado de repouso mental
em que predomina a insensibilidade (apathia), em que nada se afirma
e nada se nega (aphasia), de modo a atingir a felicidade pelo equilíbrio
e pela tranqüilidade (ataraxia). Partindo do princípio
platônico de que não há ciência possível no mundo sensível, os filósofos
gregos Arcesilau (século III a.C.) e Carnéades (século II a.C.) praticaram
uma forma moderada de ceticismo. Ambos admitem a hipótese de que há
opiniões mais ou menos prováveis e contestam a doutrina dos estóicos,
para quem a verdade é evidência direta, ou seja, existe harmonia entre
as representações e as coisas representadas.
A principal fonte de informação a respeito do ceticismo
antigo é os escritos do astrônomo e médico grego Sexto Empírico,
que viveu nos séculos II e III da era cristã. Sua formação levou-o a
valorizar a observação prática e a busca de juízos com maior probabilidade
de validade. Segundo Sexto Empírico, os argumentos do ceticismo
contra os dogmáticos são:
1 - o caráter relativo das opiniões;
2 - a necessidade de uma regressão ao infinito para encontrar-se o primeiro
princípio, no qual todos os outros se sustentam;
3 - o caráter relativo das percepções;
4 - toda demonstração se funda em princípios que não se demonstram,
mas se admitem por convenção;
5 - demonstrar algo supõe no homem a faculdade de demonstrar e a validade
da demonstração.
Sexto Empírico é considerado um filósofo pertencente
ao ceticismo e não ao empirismo. Além dos cinco itens
supracitados, ele listou mais estes itens para sustentar a posição
cética:
1º
As diferenças físicas;
2º As diferenças dos corpos humanos;
3º As diferenças dos sentidos;
4º As diferenças de circunstâncias;
5º As distâncias e localizações;
6º A mistura do objeto com o ambiente; |
7º A quantidade com que o objeto aparece;
8º A relatividade;
9º A raridade do objeto;
10º O objeto relativo à ética. |
A
Filosofia faz perguntas como:
o que é a verdade?;
o que é o conhecimento?;
o que distingue uma boa ação de uma má ação?;
o que é a justiça?;
o que dá legitimidade a um bom governo?
A filosofia procura responder a todas estas perguntas. O cético
é aquele que recusa todas as respostas dadas pela filosofia.
Ele é aquele que não se deixa convencer por nenhuma delas.
(Plínio Smith)
Na verdade, a postura adotada pelo cético é crítica
em relação à qualquer definição ou
significação definitiva sobre às questões
acima.
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